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Desafios e obstáculos no desenvolvimento de hortas urbanas e periurbanas

As hortas urbanas e periurbanas possuem inúmeros benefícios. Elas favorecem a alimentação saudável, estimulam a produção de alimentos para autoconsumo, propiciam a possibilidade de renda pelo comércio de hortaliças excedentes, entre muitas outras vantagens que foram exploradas no texto anterior .

Em contrapartida, vários obstáculos se colocam diante da instalação e manutenção dessas hortas, o que exige muito trabalho e dedicação por parte da comunidade e/ou entidade envolvidas. Para melhor analisar essa realidade, buscamos listar os principais desafios considerando o que dizem alguns trabalhos acadêmicos e a opinião de membros do Instituto EcomAmor.

As hortas urbanas e periurbanas possuem inúmeros benefícios. Elas favorecem a alimentação saudável, estimulam a produção de alimentos para autoconsumo, propiciam a possibilidade de renda pelo comércio de hortaliças excedentes, entre muitas outras vantagens que foram exploradas no texto anterior .

Em contrapartida, vários obstáculos se colocam diante da instalação e manutenção dessas hortas, o que exige muito trabalho e dedicação por parte da comunidade e/ou entidade envolvidas. Para melhor analisar essa realidade, buscamos listar os principais desafios considerando o que dizem alguns trabalhos acadêmicos e a opinião de membros do Instituto EcomAmor.

Antes que comece a horta

As geógrafas Profa. Dra. Heloísa Costa e da Me. Maura Coutinho propõem a reflexão de que “A representação da cidade apenas como ambiente construído reforça a visão dualista entre natureza e sociedade (…)” (2011, p.84). Essa concepção reverbera o estranhamento da sociedade com relação ao desenvolvimento de atividades agrícolas, num meio não-agrícola: a cidade. Nesse sentido, antes de chegar às limitações práticas, é preciso considerar que a importância das hortas urbanas ainda carece de assimilação por parte dos órgãos governamentais e da população.

Na verdade, assimilar a importância da horta é uma questão que deve ser trabalhada principalmente com uma comunidade que almeja ter uma horta. Alguns membros da EcomAmor informaram que, antes das ações de instalações de horta realizadas pelo instituto, é importantíssimo um trabalho de conscientização da comunidade que irá recebê-la. Uma espécie de trabalho de base, pré e pós horta, através de atividades informativas e reflexões sobre o porquê a horta faz sentido para aquela determinada comunidade ou entidade. Esse esforço prévio busca despertar nos indivíduos a consciência de pertencimento a uma coletividade, afinal o grupo que recebe a horta precisará se organizar para mantê-la. É preciso que a horta seja compreendida como um mecanismo que beneficia ao grupo, direta e indiretamente, dependendo do esforço individual e coletivo para existir.

Apesar da própria ideia de plantar nas cidades ainda precisar de um certo enraizamento social, a agricultura urbana e periurbana vem conquistando visibilidade. Em fevereiro de 2018, o Ministério do Desenvolvimento Social (MDS) lançou o Programa Nacional de Agricultura Urbana e Periurbana, que visa ao investimento público em projetos desse modelo de agricultura. Contudo, em razão da dificuldade do Estado de trabalhar pela infinidade de demandas sociais existentes, figura-se de suma importância a atuação das demais entidades sem vínculo governamental para fomentar e facilitar a existência das hortas nas cidades como é o caso do Instituto EcomAmor.

Os obstáculos pré-plantio estendem-se ainda para âmbito prático. Logo na seleção do local, emerge como questão a condição do solo, visto que em meio urbano existe suscetibilidade de contaminação por metais pesados e organismos causadores de doenças. É importante que haja um levantamento dos empregos dados anteriormente à área em que se almeja a implementação da horta.  Para além disso, é importante considerar na seleção do terreno a viabilidade de continuidade da horta, pois espaços públicos e privados podem ser requisitados a qualquer momento pelos responsáveis  

Outro elemento tão imprescindível quanto o solo para viabilidade do plantio é a água, porém o acesso a esse recurso básico é limitado o que a torna mais um obstáculo na continuidade de uma horta urbana.  A poluição de rios, a contaminação de lençóis freáticos e a utilização dos recursos hídricos em larga escala pela indústria, são alguns fatores que explicam a condição limitada de acesso a este recurso. Condições econômicas e geográficas são fatores determinantes do acesso à água, que efetivamente não se trata de um recurso disponível para toda população. Não por acaso, a irrigação foi indicada por muitos voluntários da EcomAmor como fator que inviabiliza ou dificulta a continuidade de uma horta urbana. Na opinião de alguns, falta acesso a técnicas que possibilitem uma dinamização da irrigação para que a necessidade de sua frequência seja reduzida. Outros destacaram que alguns locais não possuem estrutura para sistemas de irrigação, problema que muitas vezes se deve até mesmo pela indisponibilidade de água apropriada no local. Nesse ponto, enfatizamos que é necessária uma verificação prévia da disponibilidade de água de boa qualidade no local da horta, pois a irrigação com água imprópria para uso pode acarretar na contaminação das hortaliças.

Mãos à horta

A averiguação das condições do solo e água constituem esforços fundamentais para garantir que os produtos advindos da horta a ser instalada sejam seguros para consumo. Para execução do plantio e manutenção da horta, outros desafios e esforços emergem. A obtenção de sementes, insumos e equipamentos muitas vezes é de difícil acesso para as comunidades que trabalham com a horta, bem como noções técnicas mínimas necessárias para utilizá-los corretamente. Tais demandas podem ser melhor enfrentadas quando entidades competentes realizam a promoção da horta, por isso a ampliação do investimento de recursos públicos para esse fim e o trabalho de organismos não governamentais são tão importantes. No caso da Ecomamor, existe grande empenho para que se possa oferecer um serviço de boa qualidade à comunidade, o que não impede que o Instituto também encontre dificuldades.

Os  voluntários do Ecomamor apontaram a formação técnica como um dos principais elementos a serem melhorados. Sublinhamos que o Instituto não exige dos voluntários o conhecimento prévio no manejo de hortas, mas não se pode esquivar do fato que indivíduos com mais conhecimentos técnicos, evidentemente garantem uma melhor qualidade das ações da Ecomamor.  Além disso, o conhecimento técnico precisa ser minimamente repassado para a comunidade que cuidará da manutenção da horta. Em vista desses fatores, a EcomAmor vem empenhando-se para superar o déficit de formação técnica de seus membros e dos responsáveis nas comunidades e entidades atendidas. Através de parcerias com o Serviço Nacional de Aprendizagem Rural – SENAR – e com Instrutores de Agrofloresta, a agenda do Instituto passou a contemplar, também, encontros e cursos de formação para o trabalho nas hortas.

Engajamento do grupo é essencial

Tanto os trabalhos acadêmicos verificados, quanto a opinião de membros da EcomAmor atestam que o papel da comunidade no sucesso de uma horta é essencial. Inclusive, a ausência de engajamento da comunidade ou entidade beneficiada pela horta, foi destacado como obstáculo por unanimidade entre os membros consultados. Nesse tocante, eles relataram que as pessoas apresentam dificuldade em se organizar e manter disciplina de cuidado com a horta. Mais especificamente, foi observado que um dos principais desafios consiste no alcance de uma sistematização mínima de trabalho, que incluiria divisão de tarefas e turnos. Outro obstáculo é incluir de maneira efetiva o trabalho com a horta na rotina da comunidade.

Em face disso, assessoria técnica especializada e acompanhamento a médio e longo prazo são fatores relevantes para garantir a implementação e preservação das hortas . O Instituto Ecomamor vem buscando oferecer assistência, dentro de suas possibilidades, por meio de visitas pré e pós-plantio citadas anteriormente. O retorno à comunidade após implementação da horta serve para auxiliar em sua manutenção e é de suma importância para dar suporte à comunidade, ajudando-a a superar as principais dificuldades que surgem no esforço diário de continuidade da horta. Observa-se que, para colocar em prática esses objetivos, o Instituto EcomAmor conta com o Grupo de Trabalho (GT) de Manutenção, responsável pelas atividades prévias e posteriores à implementação da horta.

Muito trabalho pela frente

Em síntese, os desafios das hortas urbanas e periurbanas envolvem as carências de visibilidade e popularização do tema, investimento governamental e articulação de entidades que se comprometem com a causa, bem como as dificuldades práticas e os conhecimentos técnicos necessários no cotidiano de trabalho na horta. Soma-se a esses fatores, o empenho das comunidades que almejam o desenvolvimento das hortas nas cidades com as entidades competentes são elementos-chave para superação dos obstáculos que surgem na realização desses projetos.

O Instituto EcomAmor tem consciência desses obstáculos e busca, constantemente, preparar-se para melhor enfrentá-los. Em seus dois anos de existência, o Instituto empenha-se num esforço de autoavaliação e auto(re)conhecimento, para que possa identificar com clareza os desafios que se colocam diante do seu trabalho com hortas nas cidades. O estabelecimento de novas parcerias, a dedicação à formação profissional e busca de novas técnicas, a criação de campanhas para angariar recursos financeiros e a estruturação de novos grupos de trabalho, são alguns exemplos de esforços empreendidos pelo EcomAmor em prol de seu crescimento a fim de aprimorar os serviços que oferece à sociedade.

 

Texto escrito e enviado por Mariah Freitas Monteiro

Mariah Freitas Monteiro é mestre em História e fotógrafa. Na Ecomamor, trabalhou (2018-2019) como redatora do blog, mas se dedicou principalmente à cobertura fotográfica dos eventos do instituto.

 

 

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